Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: Crer destaca que a reabilitação e readaptação da pessoa com deficiência vai além do físico
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro, foi instituído pela ONU em 1992 para promover conscientização e ações de inclusão. Em Goiás, a pauta faz parte da rotina do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer), referência nacional e internacional no atendimento a pessoas com deficiências físicas, auditivas, visuais e intelectuais.
Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o equivalente a 7,3% da população. No estado goiano, 16% dos domicílios possuem ao menos um morador com deficiência. Os números reforçam a urgência de um ambiente social preparado para garantir independência e direitos.
Autonomia
A médica fisiatra Carolinne Borges explica que a reabilitação é um processo contínuo, que acompanha a pessoa em todas as fases da vida. Segundo ela, o objetivo é sempre “devolver o máximo de função possível ao paciente”.
O foco é sempre a independência modificada, que começa em detalhes. A terapeuta ocupacional, Giovana Mendes, explica que as adaptações mais impactantes são as de higiene: “Escovar os dentes sozinho é uma das principais conquistas de quem está iniciando o processo de readaptação”.
Invisibilidade social
Apesar do treinamento intensivo dentro da instituição, onde pacientes conseguem se locomover e se integrar em atividades como equoterapia e esporte adaptado, o obstáculo mais difícil é o social.
A paciente Adrielly Jacinto evidencia em sua fala o medo da reação alheia: “Eu não saía de casa por conta desses olhares das pessoas. Elas não olhavam para o meu rosto... olhavam para minha órtese. Aqueles olhares delas nas minhas órteses, machuca”.
A assistente social do Crer, Niula Passos, que também é pessoa com deficiência física e paciente da instituição, define a questão como invisibilidade social. “Se a gente não enxerga a pessoa com deficiência, a gente não propõe estruturas para que ela consiga atuar de forma plena. Aqui no Crer ela toca a cadeira de rodas sozinha, sem cuidador, porque temos acessibilidade. Mas lá fora, existem calçadas quebradas, rampas inexistentes... O primeiro passo para a inclusão é enxergar.”
O impacto da inclusão também aparece em ambientes como a escola. Anne Meyre, mãe do paciente Davi, comenta que a turma do filho adapta brincadeiras e atividades para que ele participe plenamente, mostrando que acessibilidade também é atitude.
Políticas públicas
Superar a crença de que “a vida acabou” após uma lesão ou diagnóstico é um trabalho fundamental do Serviço Social do Crer. “O papel da instituição é adaptar condições para que ele continue exercendo seu papel na sociedade,” afirma Niula.
Um dos focos de atuação do Crer, em parceria com o Fórum de Inclusão no Mercado de Trabalho das Pessoas com Deficiência e dos Reabilitados pelo INSS (Fimtpoder), é o Emprego Apoiado. Esta metodologia busca a inclusão sustentável, focando nos talentos da pessoa e na necessidade de apoio, visando não apenas cumprir a Lei de Cotas nº 8213/1991 (que exige de 2% a 5% de vagas para PCD em empresas com mais de 100 funcionários), mas garantir a plena capacidade produtiva.
O Crer também atua na orientação sobre direitos essenciais para pacientes, como: CadÚnico; cartão de estacionamento; passaportes (municipal, intermunicipal, interestadual); ID Jovem e outros que podem ser emitidos no Dia C da Cidadania – ação recorrente voltada para o exercício pleno da cidadania dos usuários do hospital.
O panorama educacional reforça a urgência da inclusão: apenas 25,2% das pessoas com deficiência no Brasil concluíram o ensino médio, contra 53,4% das pessoas sem deficiência, evidenciando as barreiras estruturais que precisam ser superadas por meio de políticas públicas eficazes e do engajamento social.
Para isso, o Curso de Formação em Adaptação Curricular para Professores é ofertado anualmente para docentes das redes pública e particular de ensino de Goiás. A iniciativa teve como objetivo promover o entendimento sobre o diagnóstico básico de autismo e deficiência intelectual, apresentar metodologias de intervenção amplamente utilizadas e discutir práticas pedagógicas adaptadas que favorecem a inclusão escolar.
Chamado à sociedade
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência não é apenas uma data para celebrar os avanços, mas um apelo para reconhecer as necessidades e o potencial de 7,3% da população.
A história de cada paciente e profissional do Crer reflete a própria complexidade da reabilitação. Na instituição, a autonomia e inclusão são construídas por diferentes perspectivas que se complementam: o olhar clínico, o olhar funcional, o olhar social e a experiência real de quem vive o processo, mas a inclusão plena começa na comunidade, com a eliminação das barreiras atitudinais.
