CRER realiza procedimento inédito com aparelho auditivo de condução óssea a paciente
Técnica pioneira no atendimento ambulatorial da unidade promove qualidade de vida à população surda e ensurdecida no Estado de Goiás.
Nesta segunda-feira, 15/03, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), uma unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, concedeu a uma paciente do hospital, de maneira inédita, o dispositivo que devolve a audição a pacientes com surdez parcial, conhecido como aparelho auditivo de condução óssea.
A captação do som por este dispositivo ocorre de maneira muito similar aos aparelhos auditivos convencionais. Entretanto, em vez da transmissão do som ser através do canal auditivo, via condução de ar, o dispositivo transforma o som em vibrações que são transmitidas através do crânio diretamente para dentro da cóclea, no ouvido interno. Assim, a audição por condução óssea mobiliza a capacidade natural do corpo para conduzir o som.
A mãe da paciente Helloá Rodrigues Bitencourt, de dois anos de idade, a senhora Dalcília Rodrigues da Silva, relata que soube da condição auditiva de sua filha apenas no nascimento, quando se deparou com a avaliação da médica pediatra. “Foi muito difícil para mim, no começo. Um baque mesmo, por não saber o que fazer, onde buscar ajuda”, diz.
Helloá tem uma condição chamada de microtia unilateral, que é uma má-formação em sua orelhinha, na qual o canal externo de passagem de som é fechado. Por causa da microtia, a criança tem dificuldade em distinguir os sons quando está diante de várias fontes de barulho. Ainda assim, seu cotidiano é como o de qualquer outra criança, na maior parte do tempo.
A senhora Dalcília, que reside em Cocalzinho-GO, relata que a cada exame chegava mais próximo do diagnóstico da sua filha e era amparada pela equipe multiprofissional da unidade de saúde composta por assistentes sociais, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas.
“Quando eu comecei a buscar por um tratamento para a Helloá me disseram que ela não poderia ouvir, não aprenderia a falar. Hoje é um dia muito especial para toda minha família, porque é uma vitória muito importante. Saber que ela pode ouvir e pode aprender a falar é uma alegria muito grande”, relata Dalcília, emocionada.
A fonoaudióloga do CRER, Débora Aparecida Gobbo, explica que esse tipo de aparelho concedido a Helloá envia vibrações através do osso do crânio diretamente para a cóclea, para depois serem processados pelo cérebro e significados como som pelos pacientes. Por conta da idade da paciente, e da densidade óssea de seu crânio, o dispositivo fica acoplado a uma faixa na cabeça da criança, e alocado atrás da orelha.
“Aqui, no CRER, a gente trabalha desde o diagnóstico. Então a gente vive o momento do luto da família, porque, de repente, você se depara com um diagnóstico de deficiência auditiva, mas a gente tem o prazer de acompanhar, também, o que vem depois. Então, seja no aparelho auditivo, no implante coclear ou agora, nas próteses osteoancoradas, a gente consegue ver o desenvolvimento e a retomada da qualidade de vida dessas crianças ou adultos mesmo, que conseguem o benefício agora”, explica a fonoaudióloga.
A profissional ainda ressalta a importância da estimulação ambiental e familiar para este paciente retomar sua sociabilidade. “Nós frisamos muito que o paciente receba esse processo de estimulação, vá para a fonoterapia, e frisamos muito a importância do papel da família. O trabalho tem de ser contínuo”. orienta.
Um mundo de novos sons e experiências
O diagnóstico do grau de perda auditiva e as recomendações terapêuticas são realizadas por um profissional fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista. Estes realizam testes para avaliar a audição dos pacientes e qual dispositivo é indicado, elaborando um Plano Terapêutico Singular (PTS), no qual são consideradas as condições clínicas, a faixa etária do paciente etc.
A gerente de Reabilitação Auditiva e Intelectual do CRER, Thaís Nasser Sampaio, esclarece que este é o resultado de um trabalho feito em equipe com a expertise de profissionais de múltiplas formações. Para a gerente, todo o esforço da equipe multiprofissional do hospital CRER busca propiciar a audibilidade e aos pacientes. “Ao oferecer oportunidade à inclusão e à readaptação através da dispensação destes dispositivos, objetivamos melhorar o desenvolvimento da fala e da linguagem dessas crianças. Ou seja, trata-se de melhorar o potencial de comunicação e socialização desses indivíduos. Sem dúvida, é abrir novos mundos às pessoas surdas e ensurdecidas”, finaliza a profissional.