Artigo - Exercícios físicos em crianças com paralisia cerebral – até onde vão os benefícios?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a paralisia cerebral (PC) não é uma doença. Na verdade, ela representa um conjunto de alterações nos movimentos e na postura corporal resultantes de malformações nas partes do cérebro que realizam este controle.
No Brasil há carência de informações específicas sobre o número de pacientes com PC. Entretanto, com base em dados de outros países com economia similar, este número é estimado em 7 casos para cada 1.000 nascidos vivos.
Sabemos que a prática de atividade física em crianças com este diagnóstico - especialmente proporcionada pelo tratamento de fisioterapia - é uma das formas mais eficazes para que elas apresentem ganhos funcionais que são fundamentais para seu desenvolvimento, tais como se sentar, ficar de pé ou até mesmo caminhar.
A literatura científica na área já demonstrou claramente que fatores como duração, frequência das sessões de fisioterapia e exercícios realizados durante a terapia podem interferir na resposta ao tratamento. Porém, diversas pesquisas científicas vêm discutindo se a prática de exercícios intensivos em crianças com PC é realmente benéfica.
Com uma diversidade de resultados apontados, surge a seguinte questão: para que haja melhora na capacidade funcional de crianças com PC é preciso que estas sejam submetidas à uma prática intensa de exercícios?
Diante deste dilema, profissionais do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER) realizaram um estudo, analisando os resultados de oito pesquisas clínicas que apontavam a funcionalidade e a velocidade de caminhada em crianças com PC. As pesquisas incluídas no estudo apresentavam dois grupos de crianças - um grupo daquelas que realizaram exercícios convencionais (132 crianças) e um outro grupo com aquelas que receberam uma intervenção intensa (128 crianças)*.
Em busca de resposta para a problemática, os pesquisadores, por meio de um método de pesquisa denominado de meta-análise, combinaram os dados e concluíram que, independentemente do tempo e do tipo de exercícios, não houve diferença na melhora da função motora entre as crianças dos dois grupos. No entanto, em relação à velocidade da caminhada, o estudo mostrou resultados de grande significância, com diminuição da velocidade à medida que o tratamento foi intensificado, ou seja, a intensificação do tratamento não beneficiou os pacientes.
Desta forma, pode-se inferir que a qualidade do atendimento é mais importante para o desenvolvimento motor da criança com PC do que a intensidade da atividade física propriamente dita.
Atendimento aos pacientes com PC no CRER
Enquanto referência nacional no atendimento à pessoa com deficiência, o perfil do paciente infantil do CRER é formado predominantemente por crianças com deficiência física, tais como PC e doenças neuromusculares.
A unidade hospitalar oferece diversos tratamentos voltados ao paciente com PC. Dentre os atendimentos estão a estimulação precoce, hidroterapia, equoterapia, estimulação visual e Academia Agir +Saúde.
Os pacientes são atendidos por uma equipe multiprofissional composta por profissionais capacitados e constantemente atualizados quanto às terapias mais efetivas e seguras a serem oferecidas.
Atualmente, cerca de 130 pacientes com PC estão em tratamento na unidade, sendo que os ambulatórios funcionam por agendamento, exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
*As referências dos artigos incluídos no estudo podem ser solicitadas pelo e-mail suenpes@crer.org.br.
Lucas Candido Gonçalves – Biomédico, Mestre em Ciências da Saúde, Estatístico do CRER.
Cristiane Soto Machado - Psicóloga, Mestre em Psicologia, Supervisora de Ensino e Pesquisa do CRER.
Rafaela Julia B. Veronezi – Fisioterapeuta, Doutora em Ciências Médicas, Gerente Corporativa de Ensino e Pesquisa da Agir.